Na agitada
“calçada fama” ( uma calçada onde ficam as lojas e o comércio teresopolitano) e
seus transeuntes apressados...Em uma tarde fria... Entre um poste e outro, uma
rede é amarrada. E eu passei minha adorável tarde ali naquela rede. Eu, meu
pijama, minha caneca de vinho ( tava muito frio ) , e minha poesia que era
doada as pessoas que passavam e que me doavam seus momentos preciosos de calma,
atenção e afetos. Tudo devidamente filmado com reações inacreditáveis e
experiência impagável ( Em breve, tudo isso no blog)!Teve uma senhora que passou
por lá e aceitou ouvir um de meus poemas, depois, eu li "
Silêncio" (Palarvore ) pra ela. Ao fim do poema ela comentou: - Nossa!
Esse poema foi pra mim... Silêncio... Eu disse: -Você é silenciosa é? Ela
respondeu: - Não! Sou muito sozinha mesmo, na minha casa não tenho
ninguém pra conversar... Eu fico pensando até hoje no que aquela mulher me
disse, e me assusto com o tamanho da solidão que sinto, que ela sente, e que
muito provavelmente você que lê esse registro tambémsente. Eu ia começar a dizer
aqui meus motivos e achismos sobre essa solidão toda, mas não vem ao caso.
Acontece que como havia dito, fico pensando até hoje no que ela me disse.
Depois eu perguntei se ela queria ouvir outro, e ela disse que sim. Vento de
Maio que raios lhe partam se você não ventar. - Deus me livre de raios! Disse
ela. - Na minha casa tem muito mato, cai muito raio, e eu tenho um medo danado.
Eu achei graça, dei-lhe um beijo no rosto, ela me deu um sorriso amigável e foi
embora. Depois chegou outra senhora, que ouviu um poema e foi embora
feliz da vida. A maioria das pessoas que passavam pensava que era protesto, por conta das
pessoas que ficaram sem casa na tragédia. Uma leitura bastante cabível até.
Passou por aquele instante também, duas crianças, que ficaram olhando, a menina
se aproximou, o menino ficou de longe olhando. Eu perguntei a ela se ela queria
se sentar na rede e ouvir um poema, ela quis, eu coloquei ela lá e comecei a
ler pra ela. Tentei facilitar o vocabulário já que tinha escolhido um poema
aleatório, e ela estava prestando muita atenção, até que a mãe chamou: - Anda!
Vamos embora, agora... E ela respondeu: - Calma mãe! Não tá vendo que ela tá
lendo uma poesia pra mim. Aquilo pra mim foi uma das coisas mais bonitas. Tive
a sensação de haver conseguido mesmo alcançar o coraçãozinho daquela menina.
Depois, ela foi com seu irmão e sua mãe. Passaram também alguns familiares
meus. Minhas duas primas. Disseram: - Cintia! Eu tinha falado com N. de
brincadeira, será que é Cintia ali, e não é que era mesmo ( morrendo de rir ).
Ó, tô falando com a minha mãe que quero fazer teatro, quem você indica aqui na
cidade? Eu respondi, e elas foram embora. Também passou uma pessoa que sei que
me detesta. É muito pessoal isso, eu não me importaria em dar nomes, mas
não farei. Eu realmente não entendo as razões para tanto rancor, já que não fiz
nada além de ser filha de alguém. Passou... Me viu ali, e tentou me afrontar
dizendo: - E essa canequinha? Tá cheia? Colocaram muitas moedas aí? Me deu dois
beijos no rosto com uma agressividade que parecia um tapa. E eu respondi: -
Não! Eu não estou pedindo dinheiro. Isso é vinho mesmo, tá muito frio aqui pra
passar a tarde assim... ( Arte não carece de esmola! ) Não estou pedindo
dinheiro. E isso é um trabalho. Tenho uma equipe, veja você. A pessoa se foi...
E contou pra outra pessoa (cujas opiniões sobre mim me importam bastante, e
isso não acontece sempre, geralmente, faço um esforço ou nem preciso me
esforçar para me importar só com o que eu penso e tento saber de mim ) a minha
situação, ali, exposta, na rua, numa rede, de meias, e com uma caneca na mão.
Eu realmente não sei o que foi dito, mas pela cara que P. ( de pessoa ) se
aproximou, eu poderia jurar que não era coisa boa ( por mais que P. depois
dissesse que não ), mas acontece, que a senhora que havia passado, ouvido um
poema e saído feliz da vida, havia retornado para ouvir mais um. P. chegou bem
na hora em que eu falava com ela. Ela virou para P. e disse: - Olha! Essa
menina é de dar orgulho. Que coisas lindas ela escreve. Você já ouviu? P. mudou
a expressão. Conversamos um pouco, e P. foi embora. Não sei se foi exatamente
assim. Pode até ser que não. Mas um registro meu, é a leitura que eu fiz. Tem
gente que com certeza acha que era um protesto até hoje. E era também. Quem vai
dizer que não? Eu é que não vou. Estava mesmo ali pra isso. Pra que atribuíssem
o significado que quisessem a minha figura... Para ser o que os olhos que me
viam, estavam vendo. Um cara de um jornal, me entrevistou. Falou que ia
divulgar o lançamento do meu livro (Que ainda nem estava impresso, o livro que
eu estava lendo, era apenas a boneca, não a versão final ainda). Eu confesso
que no meu descuido, não conferi o jornal. Acabou o vinho, as lojas começaram a
fechar, e eu fui embora... Ah! Como ia me esquecendo??? Uma mulher saudosa, havia passado por ali e registrado suas saudades. Dizia ter dormido muitas vezes em rede quando era criança, que havia nascido numa aldeia... Falou que alguém próximo a ela ( não lembro se avó, ou coisa do tipo ) fazia redes. E ficou passando a mão sobre a rede, e dizendo com gesticulações como é que fazia... Disse que a minha era diferente das que eram feitas lá, usou o termo rústico... Ela era então uma índia... E eu fui embora cheia dessas coisas que acontecem Ent(r)&(r)edes!
palarvore é voz que não sustenta o grito e sai rasgando a garganta. um entregalhos coberto de flores enquanto as folhas espalham o vento. Um primeiro livro, uma semente... uma vida de mortes avulsas e semidiárias. tem raiz e juventude na veia. um caule torto, uma expressão própria. palarvore é fruto de vida intensa com um olhar guloso de sumo adocicado. um réquiem do apodrecer da época. um livro sonoro e dissonante que beira as tensões do que é ser humano. um feminino forte do elemento Terra.
o restante...é erva-daninha e pontos
o restante...é erva-daninha e pontos
(...)
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