palarvore é voz que não sustenta o grito e sai rasgando a garganta. um entregalhos coberto de flores enquanto as folhas espalham o vento. Um primeiro livro, uma semente... uma vida de mortes avulsas e semidiárias. tem raiz e juventude na veia. um caule torto, uma expressão própria. palarvore é fruto de vida intensa com um olhar guloso de sumo adocicado. um réquiem do apodrecer da época. um livro sonoro e dissonante que beira as tensões do que é ser humano. um feminino forte do elemento Terra.

o restante...é erva-daninha e pontos

(...)
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quarta-feira, 10 de abril de 2013

Concepções Palavras Entransitos II - E a tal presença da ausência e vice-versa

[ Ou (...) Aos Pingos! ]



"Nessa busca incessante de aproximar a arte da vida percebe-se, também, um redimensionamento da ideia do espaço no campo mais geral da arte, redimensionando este que mantém vínculos diretos com os debates travados no campo da fenomenologia e das práticas do neoconcretismo a partir, principalmente, dos anos 60. As propostas neoconcretas, neste sentido, ora se lançam a modalidades vivenciais dos objetos, ora se deslocam para o campo das manifestações ambientais que, rompendo com uma noção de espaço vazio e neutro - receptáculo das coisas do mundo  - se define como um espaço  que incorpora, fenomenologicamente , a ação do corpo do espectador: é um espaço de qualidades afetivas, espaços-afeto, como diria Félix Guatarri, espaços-vivências que se geram a partir da experiência corporal subjetiva. Por outro lado, nessa busca incessante de aproximar a arte da vida, não somente o espaço se vivifica, como também a própria figura do artista se modifica. Longe de desenhar espaços e  universos idealizados, ele torna-se  um construtor de espaços-afeto, um construtor de territórios afetivos, de vivências relacionais."
(Priscila Arantes - Espaço e Performance)



1 - Corrigindo os primeiros "erros", se é que pode-se assim chamar:

      Na performance, não existe erro, isso é um fato. Uma experiência, não pode ser dada por errada por que é uma experiência. Qualquer efeito é efeito, e é válido. Não há regra além da vivência do artista. Porém, há sempre muitos mecanismos de desenvolvimento, de experimentação, de "aprimoramento" ( essa não é a melhor palavra, mas serve), que podem, e devem, ser testados pelo artista para ampliar as possibilidades da sua ação. Chamo de mecanismos as muitas possibilidades que podem ser trabalhadas nessas experiências: Outros objetos, espaços, fluxos de pessoas, vestimentas, temporalidades, e etc... E são esses mecanismos que por necessidade, me fizeram refazer, após repensar, de uma forma completamente diferente, a minha experiência inicial com Palavras Entransitos: Sobre lençóis e chocolates. Apresento-lhes: 
Palavras Entransitos: Sobre as ausências presentes e as presenças ausentes ou (...) Aos pingos!

Palavras Entransitos I ( vamos chamar assim, I e II, devido aos tamanhos dos títulos das vivências...rs), teve por causa, o imprevisto, o em cima da hora, o inesperado, e claro, o afeto (no caso, uma paixão alegre*!)... E isso é bastante visível na estética do registro (lençol) da performance. Levamos vários elementos para uso, porém os mais utilizados foram, o poema (É porque os filmes tristes sempre deixam um amargo na língua que ela adora chocolates), lógico, o lençol, tintas e pincéis, e canetas... Apenas. Não houve de minha parte, uma preocupação explícita, ou um pensamento, na corporalidade da ação. Também não havia um grande fluxo de pessoas pela unirio ( local escolhido para a performance). A ação era escrever, apenas, e jogar com os derramamentos de tinta, com as formigas atravessando o lençol, fazendo nascer novos poemas por acaso. Era tudo que interferiu no trabalho. E repensando esses fatores, pude perceber a importância de elementos que me levassem a outro estado, um estado mais corporal e afetivo, algo que fizesse do "pintar o lençol" algo muito maior do que "pintar um lençol", algo que fosse interessante de ser visto, algo com movimento e densidade, algo verdadeiro, que me afetasse na vida e que também estivesse no livro. Encontrei esse afeto, o afeto que impulsionou Palarvore Entransitos II (Uma paixão triste*, dessa vez) no livro-apêndice de Palarvore: Ele passa e nem percebe a presença que minha ausência tem! Então, comecei a  pensar a ação.

* Segundo as definições de Spinoza

2 - A ideia 

      Compreendendo o fator, de que ideia é a representação de algo no campo do pensamento, desenvolvi minha ação de acordo com meu afeto, minha paixão triste. Considerando a experiência adquirida com Palavras Entransitos I, optei por algumas mudanças: Considerei a importância de uma corporalidade expressiva, talvez, da representação, ainda que subjetiva. Esse movimento deveria corresponder ao afeto. O movimento pode conter várias velocidades, pausas, durações, repetições. Era necessário estar atenta a qualidade desse movimento em relação ao uso dos materiais, que estavam em relação com o afeto, com a presença que a minha ausência tinha. E esses materiais precisavam estar em relação com meu afeto e com o contexto palarvoreano. Então, meus "pincéis" eram:

- Pedaços da caixa quebrada que seria a caixa do press-kit de divulgação do Palarvore, e não foi, e acabou quebrando.
- Gravetos
- Folhas
- Flores de papel crepom oriunda de aulas da unirio
- uma escova de dentes
- E mais uma coisa ou outra que não me lembro
- Lápis de cor  ainda da infância
- Pillots : Pretos e vermelhos

As tintas:

Vermelho: Sangue / Dor / Tristeza
Preto: Solidão / Dor / Escuridão
Amarelo: Alegria do fim / A passagem / A luz ( Porque na vida as coisas passam)

Escolhi essas cores como representação do meu afeto triste. Não tinham nenhuma necessidade se não estas.  Qualquer semelhança com qualquer outra coisa, é mera coincidência. Rs!

Os demais elementos:

- O vinho
- Cigarros
- A cachaça
- MP3 com diversas músicas

(Que na minha concepção, simbolizavam boa parte do que esse afeto me levava a viver na vida. A boêmia. O clássico "afogar" as mágoas. O anestésico "necessário". O ocultar a dor. O entorpecimento. A fuga possível da dor... Etc.)

3 - A inspiração "plástica" e "performativa" do lençol : Jackson Pollock!



      Jackson Pollock apareceu por sugestão do Fábio Cordeiro, que assinou o projeto Palarvore como diretor artístico, em uma conversa sobre como havia sido Palavras Entransitos I, e como eu estava pensando  o Palavras Entransitos II, a questão com o movimento, com os pincéis, com o alcool, os cigarros, e todo aquele afeto real da minha presença ausente, e que eu queria fazer gritar nessa ação. E lógico, tinha absolutamente tudo a ver. Na década de 40, Pollock rompia com os cavaletes, pintando no chão, com telas enormes ( Maiores que meu lençol de casal...rs)  porque dizia entrar dentro do quadro. Ele também não usava pincéis, utilizava a técnica "dripping"  (gotejamento), sendo ele de grande importância para a técnica. Foi um dos maiores representantes do Action Painting. Ele era alcoolátra. Sua esfera de trabalho é a manifestação do inconsciente como prolongamento de si mesmo. Então, era possível relacionar bastante coisa do meu trabalho, do que eu vinha pensando, com a obra desse artista genial, o qual tive a oportunidade de pesquisar com imenso prazer. Era tudo o que eu precisava saber, para desenvolver o movimento preciso, a plasticidade precisa, da minha ação. O próprio ato de Pollock pintando, já era por si só, isoladamente do resultado, uma obra de arte. Uma performance. Sendo a própria obra, um registro daquele momento de entrega do artista, onde ele se submetia a seu inconsciente e criava. Era isso! Havia encontrado. Agora, era só fazer.



4 - A ação: O encontro com a loucura!

     " É o que diziam Deleuze e Guattari quando definiam a obra de arte como um "bloco de afetos e perceptos": a arte mantém juntos momentos de subjetividade ligados a experiências singulares, sejam as maçãs de cézanne ou as estruturas  listradas de Buren."
(BORRIAUD, Nicolas; Estética relacional; Tradução Denise Bottmann)

      Com tudo isso em mãos: meu material afetivo-poético - Ele passa e nem percebe a presença que minha ausência tem, que acabei optando por substituir "Ele" por (...), para deixar mais subjetivo, e porque (...) já era uma marca minha ( Minhas reticências de vista ); Mais os "pincéis" alternativos, mais o alcool, os cigarros, a música, e toda aquela plasticidade Pollockiana em mente... Eu estava pronta para dar início ao Palavras Entransito: Sobre as presenças ausentes e as ausências presentes ou (...) Aos Pingos.


      Trabalhei toda aquela densidade dentro de mim. Era a hora de colocar para fora como uma obra de arte vivente. Comecei respingando as tintas, preta e vermelha no lençol. Ouvia com o corpo todo. Era uma figura estranha, pairava a dor de ser ausência em minha imagem presente. E também a presença da ausência sentida estava em mim representada. Ao menos é o que eu buscava com o meu afeto. Do espectador, a gente nunca sabe. Na verdade, estava ali pra ser subjetivada pelos afetos passantes. Não dava pra saber se os afetos eram os mesmos, e muito provavelmente, não eram. Toda a minha dor expressa, não passava de uma ideia na cabeça de alguém, uma ideia vago, de algo. Acendia um cigarro, que compôs furos no lençol... Reticências... Que compus com esse propósito: de ser furo e reticência. O vinho entrava pra jogo, a cachaça que tinha uma embalagem sacana de remédio tarja preta, entrava pra jogo, a dor entrava pra jogo. 
As pessoas entravam pro jogo, e participavam como queriam. Assistindo, bebendo, passando (...)



O corpo atento respondia aos impulsos cinestesicamente. Sem pensar, o movimento era ágil com o ambiente. Os estímulos usados eram muitos: a presença das pessoas, andando, parando, dizendo, cantando,  a música que eu ouvia, ou não ouvia ( nem todo o momento eu ouvi música ), as cores das tintas, do céu, das roupas, o espaço, sua textura, os objetos, e (...) Tudo era estímulo para o movimento. Ele respondia instantaneamente a todas essas coisas. Eu estava presente. E era afetada. E afetava. Usei os materiais para escrever a frase: (...) Passa e nem percebe a presença que minha ausência tem (...) e a cada um, o meu corpo reagia diferente. Era um estado de tensão iminente. Dado um momento, cantei... " Não tenho nada com isso, nem vem falar, eu não consigo entender sua lógica. Minha palavra cantada pode espantar, e aos seus ouvidos parecer exótica. Mas acontece que não posso me deixar levar por um papo que já não deu, não deu. Acho que nada restou pra guardar ou lembrar... Do muito ou pouco que houve entre você e eu. Nem uma força virá me fazer calar. Faço no tempo soar minha sílaba. Canto somente o que pede pra se cantar. Sou o que soa eu não douro pílula. Tudo que eu quero é um acorde perfeito maior, com todo mundo podendo brilhar num cântico. Canto somente o que não pode mais se calar. Noutras palavras sou muito romântico." - Caetano Veloso -
E cantei essa música algumas vezes, com qualidades de estado bem diferentes. Com intensidades diferentes. 
Quando foi finalizando a ação, que senti o esvaziamento característico do fim, junto ao anoitecer, comecei a jogar o amarelo. A luz, o fim, a passagem... O esgotamento. E então, quando acabei de escrever a frase, e pintar meu "quadro" (...)


 (...)
- O encontro com a loucura ( na subjetividade):
No inconsciente, Stella do Patrocínio!
No branco das roupas.
No estado.
Na dimensão das ações.
Na expressividade.
Na visceralidade. 
                      (Tudo isso!  Dentro do inconsciente!)
(...) 

      Após o derramamento de tinta vermelha, caminhei cantando a canção para o caminho das pessoas no jardim. E lá, fiquei presente, eu e minha ausência. Notáveis.


     
     E quando pensei que havia acabado e retornei ao lençol para guardar as coisas, uma menina chegou, e começou a me provocar. Dizia coisas: Corre. Pula. Pega. Dava comandos de ordem que meu impulso, obedecia. E quando por impulso eu parei de obedecer as instruções dela, por incômodo , ela começou a executar suas próprias ações. Jogamos juntas, até que ela foi, e esvaziou de fato o afeto. Havia chegado ao fim. Eu já podia dar como encerrado. E na troca de roupa, quando tudo havia findado, eu encontrei com ela, e nós conversamos. Ela me disse que havia gostado do que viu, que era denso, visual, mas que não havia visto desde o início. Achou interessante eu jogar com a provocação dela, e que não era a intenção causar o " incômodo" , para ela, era apenas um jogo. E sim! Era também. Ela me perguntou coisas, eu respondi. E ficamos assim. Voltei pra casa aliviada. Uma paixão triste acabou de se tornar eterna, só que pelo lado de fora, não mais dentro. Era exteriorizada. Era do mundo. Não mais minha. Isso era o máximo.

5 - O olhar do outro:

"Para tanto, será lançada a noção de espaço de performação, traduzido como aquele que insere o espectador na obra-proposição, possibilitando a criação de uma estrutura relacional ou comunicacional. Ou seja, o espaço de ação do espectador ampliando a noção de performance como um procedimento que se prolonga também no participador (...) Uma categoria sempre aberta e sem limites".
(MELIM, Regina; Performance nas artes visuais )

      Me chama a atenção o tempo que levei pra relatar de fato o que houve naquela performance. E me chama a atenção também, o fator, que eu considero de suma importância, que entrou pelo olhar do outro, mas que estava desde sempre implícito na minha subjetividade: A loucura. Naquela semana, estava devorando o livro "Reino dos bichos e dos animais é meu nome" , livro da Stella do Patrocínio, organizado pela Viviane Mosé, lançado pela Azougue. E só ficou claro, de que eu havia dialogado com a loucura também na ação, pelo olhar do outro. O Pedro (produtor), que me fez esse apontamento, que de muito me serviu. Tanto, que antes (quase um ano depois, o que é muito incomum de acontecer) de eu escrever esse registro completo da ação, havia organizado com as fotos, uma espécie de registro poético onde eu dialogo a performance com alguns textos do livro, e me dei por satisfeita. Apenas hoje, decidi escrever o que de fato houve. Antes, depois das fotos, não havia necessidade, hoje, houve.
      O olhar do espectador, permanece. A ação acabou, mas os registros a mantém "viva", e continuo recebendo significações que partem da experiência do outro sobre aquilo que eu fiz. Confesso ter que trabalhar com o incomodo acerca da metafísica apontada por duas pessoas. Quando me propus a fazer o Palavras Entransitos II, tive um impulso, uma ideia, um linha de ações e possíveis significações, e o que é mais incrível é que nada disso é certeza de nada ( por estar sempre incluso, o outro).  A metafísica está, mas não é a causa, só está porque está em tudo (Mais até nos chocolates, como na tabacaria do Pessoa). Nunca foi, e se fosse, possivelmente não seria como alguns apontamentos que recebi, o cerne da minha questão. Não há nenhuma religiosidade da minha parte. Nada! Entendo e trato aqui, de ritual ( E nem viria de mim esse conceito) como meramente uma sequência de ações, gestos, atividades. Mais nada. O mais, é externo a mim, e só faz parte, por ser a vida da performance ser prolongada no outro de acordo com a sua vivência própria, a sua perspectiva, a sua potência de subjetividade e significação.
      No entanto, tudo foi se transformando ( e ainda está ) no caminho. No fim, as coisas são sempre imprevisíveis quando se trata de performance. E quem é o outro para julgar o significado? E quem sou eu para julgar a significação? Se quando ando, tenho nas costas a minha bagagem própria, e quando o outro se aproxima, carrega o peso da sua vivência pessoal. Não significa o que é, ou deixa de ser... Apenas significa, de acordo com cada um. De acordo com a participação de cada. Uma grande composição sem ordem! Estranho e maravilhoso! Palavras Entransito III, agora! Será?







quarta-feira, 27 de junho de 2012

Ent(r)&(r)edes



Na agitada “calçada fama” ( uma calçada onde ficam as lojas e o comércio teresopolitano) e seus transeuntes apressados...Em uma tarde fria... Entre um poste e outro, uma rede é amarrada. E eu passei minha adorável tarde ali naquela rede. Eu, meu pijama, minha caneca de vinho ( tava muito frio ) , e minha poesia que era doada as pessoas que passavam e que me doavam seus momentos preciosos de calma, atenção e afetos. Tudo devidamente filmado com reações inacreditáveis e experiência impagável ( Em breve, tudo isso no blog)!Teve uma senhora que passou por lá e aceitou ouvir um de meus poemas, depois, eu  li " Silêncio" (Palarvore ) pra ela. Ao fim do poema ela comentou: - Nossa! Esse poema foi pra mim... Silêncio... Eu disse: -Você é silenciosa é? Ela respondeu: - Não! Sou  muito sozinha mesmo, na minha casa não tenho ninguém pra conversar... Eu fico pensando até hoje no que aquela mulher me disse, e me assusto com o tamanho da solidão que sinto, que ela sente, e que muito provavelmente você que lê esse registro tambémsente. Eu ia começar a dizer aqui meus motivos e achismos sobre essa solidão toda, mas não vem ao caso. Acontece que como havia dito, fico pensando até hoje no que ela me disse. Depois eu perguntei se ela queria ouvir outro, e ela disse que sim. Vento de Maio que raios lhe partam se você não ventar. - Deus me livre de raios! Disse ela. - Na minha casa tem muito mato, cai muito raio, e eu tenho um medo danado. Eu achei graça, dei-lhe um beijo no rosto, ela me deu um sorriso amigável e foi embora.  Depois chegou outra senhora, que ouviu um poema e foi embora feliz da vida. A maioria das pessoas que passavam pensava que era protesto, por conta das pessoas que ficaram sem casa na tragédia. Uma leitura bastante cabível até. Passou por aquele instante também, duas crianças, que ficaram olhando, a menina se aproximou, o menino ficou de longe olhando. Eu perguntei a ela se ela queria se sentar na rede e ouvir um poema, ela quis, eu coloquei ela lá e comecei a ler pra ela. Tentei facilitar o vocabulário já que tinha escolhido um poema aleatório, e ela estava prestando muita atenção, até que a mãe chamou: - Anda! Vamos embora, agora... E ela respondeu: - Calma mãe! Não tá vendo que ela tá lendo uma poesia pra mim. Aquilo pra mim foi uma das coisas mais bonitas. Tive a sensação de haver conseguido mesmo alcançar o coraçãozinho daquela menina. Depois, ela foi com seu irmão e sua mãe. Passaram também alguns familiares meus. Minhas duas primas. Disseram: - Cintia! Eu tinha falado com N. de brincadeira, será que é Cintia ali, e não é que era mesmo ( morrendo de rir ). Ó, tô falando com a minha mãe que quero fazer teatro, quem você indica aqui na cidade? Eu respondi, e elas foram embora. Também passou uma pessoa que sei que me detesta. É muito pessoal isso,  eu não me importaria em dar nomes, mas não farei. Eu realmente não entendo as razões para tanto rancor, já que não fiz nada além de ser filha de alguém. Passou... Me viu ali, e tentou me afrontar dizendo: - E essa canequinha? Tá cheia? Colocaram muitas moedas aí? Me deu dois beijos no rosto com uma agressividade que parecia um tapa. E eu respondi: - Não! Eu não estou pedindo dinheiro. Isso é vinho mesmo, tá muito frio aqui pra passar a tarde assim... ( Arte não carece de esmola! ) Não estou pedindo dinheiro. E isso é um trabalho. Tenho uma equipe, veja você. A pessoa se foi... E contou pra outra pessoa (cujas opiniões sobre mim me importam bastante, e isso não acontece sempre, geralmente, faço um esforço ou nem preciso me esforçar para me importar só com o que eu penso e tento saber de mim ) a minha situação, ali, exposta, na rua, numa rede, de meias, e com uma caneca na mão. Eu realmente não sei o que foi dito, mas pela cara que P. ( de pessoa ) se aproximou, eu poderia jurar que não era coisa boa ( por mais que P. depois dissesse que não ), mas acontece, que a senhora que havia passado, ouvido um poema e saído feliz da vida, havia retornado para ouvir mais um. P. chegou bem na hora em que eu falava com ela. Ela virou para P. e disse: - Olha! Essa menina é de dar orgulho. Que coisas lindas ela escreve. Você já ouviu? P. mudou a expressão. Conversamos um pouco, e P. foi embora. Não sei se foi exatamente assim. Pode até ser que não. Mas um registro meu, é a leitura que eu fiz. Tem gente que com certeza acha que era um protesto até hoje. E era também. Quem vai dizer que não? Eu é que não vou. Estava mesmo ali pra isso. Pra que atribuíssem o significado que quisessem a minha figura... Para ser o que os olhos que me viam, estavam vendo. Um cara de um jornal, me entrevistou. Falou que ia divulgar o lançamento do meu livro (Que ainda nem estava impresso, o livro que eu estava lendo, era apenas a boneca, não a versão final ainda). Eu confesso que no meu descuido, não conferi o jornal. Acabou o vinho, as lojas começaram a fechar, e eu fui embora... Ah! Como ia me esquecendo??? Uma mulher saudosa, havia passado por ali e registrado suas saudades. Dizia ter dormido muitas vezes em rede quando era criança, que havia nascido numa aldeia... Falou que alguém próximo a ela ( não lembro se avó, ou coisa do tipo ) fazia redes. E ficou passando a mão sobre a rede, e dizendo com gesticulações como é que fazia... Disse que a minha era diferente das que eram feitas lá, usou o termo rústico... Ela era então uma índia... E eu fui embora cheia dessas coisas que acontecem Ent(r)&(r)edes!






domingo, 13 de maio de 2012

PALARVORE Saiu pra plantar um poema e nunca mais voltou / Ensaio Fotogra...

(...)

e saímos (...)


e ficamos plantados (...)



e a poesia era uma coisa que dava o contorno
galhos e folhas
saltavam

(...)



nervuras de tronco
os olhos se fecham!


(...)




Vídeo-ensaio-fotográfico da performance: "Saiu para plantar um poema e nunca mais voltou (...)"
Luandando performativamente: Marcelo Asth, Lucas Nascimento e Cintia Luano
Vídeo e Fotografia: Rany Carneiro



sexta-feira, 11 de maio de 2012

Palavras Entransitos: Sobre as ausências presentes e as presenças ausentes ou (...) Aos pingos!

Sentimento nocivo (...) erva-daninha (#) :

Aos pingos (...)

"(...) Passa e nem percebe a presença que a minha auência tem (...)"


 (...)

" Eu não sei o que fazer da minha vida
Por isso eu estou triste
E fico vendo tudo em cima da minha cabeça
Em cima do meu corpo
Toda hora me procurando me procurando
E eu já carregada de relação sexual
Já fodida


Botando o mundo inteiro pra gozar e sem gozo nenhum"







" Nasci louca
Meus pais queriam que eu fosse louca
Os normais tinham inveja de mim
Que era louca"


"Eu já falei em excesso em acesso muito e demais
Declarei expliquei esclareci tudo
Falei tudo que tinha que falar
Não tenho mais assunto mais conversa fiada
Já falei tudo
Não tenho mais voz pra cantar também
Porque eu já cantei  tudo que tinha  que cantar"

(...)
"(...) Minha palavra cantada pode espantar, e aos seus ouvidos parecer exótica (...)" *


" Já não tenho mais voz (...)

(...)





"(...) Porque já falei tudo o que tinha que falar
Falo, falo, falo o tempo todo
E é como se eu não tivesse falado nada
Eu sinto fome matam minha fome
Eu sinto sede matam minha sede
Fico cansada falo que tô cansada
Matam meu cansaço
Eu fico com preguiça matam minha preguiça
Fico com sono matam meu sono (...)
(...) Quando eu reclamo (...) "





" Eu não queria me formar
Não queria nascer
Não queria tornar forma humana
Carne humana e matéria humana
Não queria saber de viver
Não queria saber da vida

Eu não tive querer

nem vontade pra essas coisas
E até hoje eu não tenho querer
nem vontade pra essas coisas"
(...)

" E os bares todos andam transbordando pessoas chatas e vazias" (#)




"Olha quantos estão comigo
Estão sozinhos
Estão fingindo que estão sozinhos
Pra poder estar comigo"




(...)

" Pra poder ter uma alimentação
É preciso depender sempre de uma fêmea
Dos filhos todinhos da fêmea
Da fêmea dos filhos todinhos da fêmea
Dos bichos dos animais todinhos da fêmea
Recolher tudo botar tudo pra dentro pra fora pra
cima pra baixo
De um lado de outro pela frente pelo fundo
Pela boca pelos olhos pela cabeça
Pela pele pela carne pelos ossos
Pela larguez pela altura
Pelo corpo todo

Quem sofre sou eu
Quem passa mal sou eu"

(...)


"Ideias sem pai e mãe
Que não nascerão jamais (#)




Ideias sem pai e mãe

Que não nascerão jamais (#)






Ideias sem pai e mãe

Que não nascerão jamais (#)"









(...)

"(...) Nenhuma força virá me fazer calar
Faço no tempo soar minha sílaba

Canto somente o que pede pra se cantar

Sou o que soa eu não douro pílula (...)"


" Tô carregada de uma relação total
Sexual
Fodida

Botando o mundo inteiro pra gozar e sem gozo
nenhum "











(...)
" Você está me comendo tanto pelos olhos
Que eu já não tenho de onde tirar força
Pra te alimentar"

(...)

"Pinga, poesia!
Pinga!
Pinga!"

(#)

Legenda:

(#) - Erva daninha: Trecho extraído do poema " Aos pingos"
(*)- Muito romântico ( Caetano veloso ) - Trecho extraído da música cantada na performance
(...) - Os demais... São todos poemas da Stela do Patrocínio ( muito bem patrocinada!), do livro: "Reino dos bichos e dos animais é o meu nome" ; editora: azougue; Organização e apresentação: Viviane Mosé. - (Um olhar sobre a minha loucura própria com o "Patrocínio" de Stela-



Fotos: Rany Carneiro e Jayme Mattos
Performer: Cintia Luando